Somos “todos” ou “todas”?
A presença da mulher tomando
decisões, dentro e fora do lar, administrando órgãos públicos, gerenciando
empresas, tem sido cada vez mais forte, mas observo que ainda existe um viés de
autoafirmação desnecessário que não condiz mais com a força dessa mulher que
queremos ser.
Se existe preconceito, sim, existe e não tem como negar. Mas
quero reforçar que essa é uma carapuça que não deve ser mais vestida pelo
universo feminino. O preconceito, em qualquer âmbito, é do outro e não nosso.
Ninguém deve tomar para si o que não lhe pertence.
Se o marido não quer mais viver com você, se o marido morreu, se
você precisar assumir a gerência da empresa, da casa, da fazenda, ser mãe solo,
precisa trabalhar dois turnos para sustentar a casa, assuma sua
responsabilidade com maestria e não seja vítima.
Enquanto existir uma vítima vai existir um algoz, isso é fato.
Em que lugar queremos nos colocar? Como mulheres maduras, ou como mulheres que
ainda se vitimizam para chamar atenção.
As mulheres precisam valorizar o seu potencial, saber ao certo o
que querem e onde querem chegar. As mulheres ainda confundem o ato de se
impor com o de apenas se posicionar.
Mulher quer ser vista e incluída no todo, e para isso, correu
léguas do lado feminino, buscou igualdade, mas esqueceu que somos
biologicamente desiguais.
Pesquisas apontam que homens recebem salários 30% maiores em
relação às mulheres. Existem várias mulheres que hoje sustentam a casa
sozinhas, dão conta de pagar as custas familiares, ganham mais que os homens,
inclusive, 31% das propriedades rurais, segundo o IBGE 2020, que totalizam 8,4%
das áreas rurais no Brasil são cuidadas e gerenciadas por mulheres.
O que elas fizeram de diferente? Se olharam, deram conta de se
posicionar e se autovalorizar. Assumiram o papel de mulher e não de menina.
A mulher se empoderou tanto, reivindicando seus direitos, na
luta pela igualdade de gênero, que o homem ficou acuado, entendendo que a
mulher busca privilégios ao invés de igualdade. Não é raro encontrar mulheres,
cuidando do lar, dos filhos, sendo bem resolvida no trabalho, na empresa,
empreendendo e não sentindo mais necessidade de conviver com o homem. Tanto é
que, o número de divórcios cresce assustadoramente.
Quando falamos de empoderamento feminino, não estamos falando
somente de dar espaço para as mulheres na sociedade, mas também falamos de como
é importante encorajá-las desde meninas a serem o que quiserem, a ter
autoestima em diversos aspectos de suas vidas e a repassar esse suporte a
outras mulheres que possam precisar.
Muitas mulheres ainda sentem necessidades de serem mencionadas
nas apresentações pelo gênero feminino, como se elas fossem o alecrim dourado
da plateia.
Boa noite a todos e a todas. Pois bem: todos é um pronome
indefinido que se refere a pessoas ou coisas indeterminadas, sem
especificidade. Sendo assim, é necessária tamanha autoafirmação para se sentir
reconhecida?
As mulheres se apequenam com exigências tão enfadonhas, que nada
agregam, para o seu crescimento e valorização, deixando de observar o ponto
crucial do caminho, perdendo-se em lamentações. Por um lado, querem o direito
de igualdade em relação aos homens, mas quando são inclusas no pronome
indefinido “todos”, que vale igualmente para homens, mulheres, crianças e
idosos querem ser tratadas como TODAS, deixando de lado a igualdade dos
gêneros.
Mulheres, nós precisamos saber o que queremos e até onde
queremos ir. Não é uma nomenclatura que nos fará mais ou menos respeitada. Não
é uma nomenclatura que nos fará mais ou menos competente, ou nos tornará
empoderadas. Sermos responsáveis por nós mesmas e não delegarmos a outras
pessoas o poder de dizer como nós devemos ser, já basta para nos colocar na
posição de respeito.
Há
muitos conceitos sobre empoderamento feminino e também muita banalização, como
no caso, necessidade de “todas”. Eu
acredito na legitimidade da vida e no fluxo do amor. Eles vão apontando
os caminhos para construir círculos virtuosos para a nossa vida. Basta estarmos no nosso centro para colher os
sinais.
Enfim, todos nós, independentemente de sermos
homens ou mulheres, ocupamos exatamente o lugar onde nos colocamos. Tudo é
nossa responsabilidade. Se nos posicionarmos como vítimas, seremos vítimas. Se
nos posicionarmos como um ser humano de grande valor, seremos naturalmente
reconhecidos por esse valor sem que haja necessidade de fazermos comparações
entre homens e mulheres.
JULIANE SILVESTRI BELTRAME
ESPECIASTA EM DIREITO DAS FAMÍLIAS