10 de Março de 2023 - 11h42

​Somos “todos” ou “todas”?

Somos “todos” ou “todas”?

A presença da mulher tomando decisões, dentro e fora do lar, administrando órgãos públicos, gerenciando empresas, tem sido cada vez mais forte, mas observo que ainda existe um viés de autoafirmação desnecessário que não condiz mais com a força dessa mulher que queremos ser.

Se existe preconceito, sim, existe e não tem como negar. Mas quero reforçar que essa é uma carapuça que não deve ser mais vestida pelo universo feminino. O preconceito, em qualquer âmbito, é do outro e não nosso. Ninguém deve tomar para si o que não lhe pertence.

Se o marido não quer mais viver com você, se o marido morreu, se você precisar assumir a gerência da empresa, da casa, da fazenda, ser mãe solo, precisa trabalhar dois turnos para sustentar a casa, assuma sua responsabilidade com maestria e não seja vítima.

Enquanto existir uma vítima vai existir um algoz, isso é fato. Em que lugar queremos nos colocar? Como mulheres maduras, ou como mulheres que ainda se vitimizam para chamar atenção.

As mulheres precisam valorizar o seu potencial, saber ao certo o que querem e onde querem chegar. As mulheres ainda confundem o ato de se impor com o de apenas se posicionar.

Mulher quer ser vista e incluída no todo, e para isso, correu léguas do lado feminino, buscou igualdade, mas esqueceu que somos biologicamente desiguais.

Pesquisas apontam que homens recebem salários 30% maiores em relação às mulheres. Existem várias mulheres que hoje sustentam a casa sozinhas, dão conta de pagar as custas familiares, ganham mais que os homens, inclusive, 31% das propriedades rurais, segundo o IBGE 2020, que totalizam 8,4% das áreas rurais no Brasil são cuidadas e gerenciadas por mulheres.

O que elas fizeram de diferente? Se olharam, deram conta de se posicionar e se autovalorizar. Assumiram o papel de mulher e não de menina.

A mulher se empoderou tanto, reivindicando seus direitos, na luta pela igualdade de gênero, que o homem ficou acuado, entendendo que a mulher busca privilégios ao invés de igualdade. Não é raro encontrar mulheres, cuidando do lar, dos filhos, sendo bem resolvida no trabalho, na empresa, empreendendo e não sentindo mais necessidade de conviver com o homem. Tanto é que, o número de divórcios cresce assustadoramente.

Quando falamos de empoderamento feminino, não estamos falando somente de dar espaço para as mulheres na sociedade, mas também falamos de como é importante encorajá-las desde meninas a serem o que quiserem, a ter autoestima em diversos aspectos de suas vidas e a repassar esse suporte a outras mulheres que possam precisar.

Muitas mulheres ainda sentem necessidades de serem mencionadas nas apresentações pelo gênero feminino, como se elas fossem o alecrim dourado da plateia.

Boa noite a todos e a todas. Pois bem: todos é um pronome indefinido que se refere a pessoas ou coisas indeterminadas, sem especificidade. Sendo assim, é necessária tamanha autoafirmação para se sentir reconhecida?

As mulheres se apequenam com exigências tão enfadonhas, que nada agregam, para o seu crescimento e valorização, deixando de observar o ponto crucial do caminho, perdendo-se em lamentações. Por um lado, querem o direito de igualdade em relação aos homens, mas quando são inclusas no pronome indefinido “todos”, que vale igualmente para homens, mulheres, crianças e idosos querem ser tratadas como TODAS, deixando de lado a igualdade dos gêneros.

Mulheres, nós precisamos saber o que queremos e até onde queremos ir. Não é uma nomenclatura que nos fará mais ou menos respeitada. Não é uma nomenclatura que nos fará mais ou menos competente, ou nos tornará empoderadas. Sermos responsáveis por nós mesmas e não delegarmos a outras pessoas o poder de dizer como nós devemos ser, já basta para nos colocar na posição de respeito.

Há muitos conceitos sobre empoderamento feminino e também muita banalização, como no caso, necessidade de “todas”. Eu acredito na legitimidade da vida e no fluxo do amor. Eles vão apontando os caminhos para construir círculos virtuosos para a nossa vida. Basta estarmos no nosso centro para colher os sinais.

Enfim, todos nós, independentemente de sermos homens ou mulheres, ocupamos exatamente o lugar onde nos colocamos. Tudo é nossa responsabilidade. Se nos posicionarmos como vítimas, seremos vítimas. Se nos posicionarmos como um ser humano de grande valor, seremos naturalmente reconhecidos por esse valor sem que haja necessidade de fazermos comparações entre homens e mulheres.


JULIANE SILVESTRI BELTRAME

ESPECIASTA EM DIREITO DAS FAMÍLIAS

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