- 08 de Abril de 2011 - 07h41

Preço baixo e novas normas de composição no fumo preocupam produtores

Cultura do fumo em apuros

No último ano o preço médio que os produtores de fumo recebem pelo quilo do produto caiu 16,5% (em Reais). A informação é da economista Márcia Cunha Varaschin, do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri revelando que os custos de produção não tiveram queda. “Pelo contrário, subiram, sem contar o encarecimento e escassez da mão-de-obra que, em alguns casos, tem inviabilizado a atividade”, revelou a economista.

Um outro ponto que vem preocupando os fumicultores são as consultas públicas da Anvisa (nos. 112 e 117), que pretendem alterar os teores de aromatizantes, alcatrão, nicotina e monóxido de carbono contidos no fumo, o que inviabilizaria o cultivo da variedade Burley. Em Santa Catarina 16.200 famílias produzem esta variedade.

Além do preço ter caído e das novas normas de composição, o rigor na classificação do produto também aumentou. “As empresas estão comprando apenas o que está estabelecido nos contratos, o que não ocorria em anos anteriores, quando compravam toda a produção”, afirma Márcia que destaca como ponto positivo, as altas produtividades alcançadas nesta safra, bem acima de anos anteriores, o que trouxe um certo alento aos produtores. Confira a tabela 1 abaixo.

Distribuição do cultivo de fumo em SC


As regiões que concentram no Estado a produção de fumo são: o Sul (31% da produção estadual), o Vale do Itajaí (26%), o Norte (23%) e o Oeste (15%). As maiores produtividades encontram-se nas seguintes regiões: Sul (2.064 kg/ha), Grande Florianópolis (2.027 kg/ha) e Norte (2.024 kg/ha).

No Estado existem 55.200 famílias produtoras de fumo. A maioria é composta de pequenos produtores, cujas propriedades possuem menos de dez hectares. Alguns deles nem terra possuem, trabalham em regime de parceria. Na safra 2009/10 suas produções geraram uma renda de R$ 1.544 milhões.

Em Santa Catarina, assim como no Rio Grande do Sul e no Paraná, a produção de fumo é realizada em regime de integração com a indústria e, assim, o dimensionamento do plantio se dá de acordo com as necessidades internas e de exportação do produto. Em SC cerca de 65% da produção é exportada (no Brasil este número varia entre 70 e 82%, dependendo do ano).

Exportações
Até 2005 Santa Catarina não exportava um volume significativo de fumo. A partir de 2006 as exportações se intensificaram. Em 2008 o estado exportou 79% de sua produção. Foi o recorde. Desde aquele ano as exportações vêm decrescendo. Em 2009 exportou-se 74,7% da produção e em 2010 este número chegou a 65%.

Em termos de quantidade, o volume exportado em 2010 foi 48% menor que em 2009. Os principais compradores do fumo catarinense são os Países Baixos, seguidos da Bélgica, Rússia, Alemanha e Polônia.

Em 2011, no primeiro trimestre, as exportações catarinenses alcançaram US$ 135,7 milhões e 21,1 mil toneladas. Em igual período de 2010 estes números foram US$ 128,5 milhões e 24,6 mil toneladas.

“Várias razões são apontadas para a queda nas exportações em 2010, uma delas é o comportamento cambial”, explica Márcia. Com o dólar abaixo de R$1,70, o fumo brasileiro (e o catarinense) perde competitividade, embora seja de boa qualidade. E, assim, outros mercados acabam tomando o espaço ocupado pelo produto brasileiro.

É o caso dos países africanos, que produzem o fumo Virgínia (principal tipo produzido em Santa Catarina) de excelente qualidade, com preços muito inferiores aos praticados no Brasil. Lá o processo classificatório acontece através de leilões e, assim, os produtores têm que ter um produto de excelente qualidade para poder conseguir um bom preço e competir com os demais. Um dos países que tem aumentado sua participação nas exportações mundiais é o Zimbábue. Quando ele se chamava Rodésia era um grande exportador, mas, por instabilidades políticas, acabou se afastando do mercado. O Brasil, naquele momento, tomou para si parte de seus compradores.

Agora, o processo pode se inverter.
Expectativa dos produtores é de vender mais na safra 2010/11
Como até agora apenas 20% do produto foi comercializado, os valores da safra 2010/11 (tabela 2), ainda podem ser revistos. Historicamente, nesta época, metade do produto já estava comercializada. Este ano as compras pelas indústrias podem se estender até setembro.

Por outro lado, a atividade ganhou um incentivo no mês que passou: a inauguração de uma nova fábrica de processamento de fumo em folha em Araranguá. Esta inauguração faz parte de um processo de migração das indústrias de beneficiamento do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, iniciado em 2008.

A cadeia produtiva do fumo em Araranguá representa R$ 73,7 milhões, ou 19,24% da economia municipal.
Com a implantação das fábricas no Estado, o que é produzido em Santa Catarina será beneficiado aqui e encaminhado, sobretudo, para o mercado externo. É esperar para ver.

Fonte: Economista Márcia Janice Freitas da Cunha Varaschin/Epagri/Cepa

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