20 de Abril de 2024 - 07h41

Quais as causas do aumento dos divórcios no Brasil?

A mulher sempre viveu uma grande luta para garantia de seus direitos, somente com a lei do Divórcio (6.515/77) que ela ter acesso a essa liberdade e o matrimonio deixou de ser indissolúvel.

Com a nossa Carta Magna a mulher teve reconhecida ao menos formalmente a igualdade de alguns direitos, inclusive a proibição da diferença salarial.

Com o novo Código Civil de 2002, a falta da virgindade deixou de ser motivo para anular o casamento dando liberdade de escolha para as mulheres.

Quando a Lei 11.441/07 possibilitou a forma extrajudicial de oficialização da separação o país somava milhares de processos dessa natureza, chegando no ano de 2023 com 1 milhão de divórcios extrajudiciais, sem contar os judiciais, sendo que no mesmo ano tivemos 900 mil casamentos, tudo de acordo com os dados do Colégio Notarial do Brasil.

Depois da lei não teve mais entraves burocráticos o que abriu possibilidades para muitos casais divorciarem-se, de forma rápida, com menos custos e longe do processo judicial.

Outro ponto importante a ser verificado que o direito de família, propõe uma liberdade aos cônjuges, não influenciando na vida de casal, o que antigamente não ocorriaporque o poder estava na mão da Igreja e do Estado.

Após a Emenda Constitucional 66/2010, que retirou os prazos para o divórcio, cresceu assustadoramente os pedidos de divórcio, uma vez que passaram a ser efetuados de forma direta. Ou seja, sem prazo, você em um dia casa e separa no outro. Antes, os casais precisavam provar que estavam separados por pelo menos um ano e meio antes de iniciar o processo de oficialização.

No ano de 2020, devido a pandemia, os cartórios foram autorizados a realizar o divórcio extrajudicial de forma online. Então basta que o casal tenha toda documentação em ordem, até mesmo a partilha de bens que se resolve rapidamente sem a burocracia de um processo judicial, desde que não tenham menores e a mulher não esteja grávida.

Um dado importante, segundo o IBGE é que os homens se divorciam com 42/43 anos e as mulheres com 40 anos, essa é a idade crítica para os casais devido a rotina, a chegada dos filhos e o recebimento das ilusões do casamento, onde a dissolução é o meio encontrado pelos casais que não estão preparados para um amor profundo.

Outro ponto importante e que deve ser considerado nas altas estatísticas é que os casais não conseguem entender as diferenças existentes entre homens e mulheres, e tentam igualar o outro para dar certo a união;

A pandemia fez os casais ficarem próximos demais e acabou sobrecarregando o convívio, o que levou a muitos casais acharem a solução imediata sem pensar na vida futura e na grande escola de evolução que é o casamento.

Os casais, juntam-se para serem felizes e esquecem que cada um é responsável por sua felicidade, colocando no ombro do outro as culpas pelas dificuldades e perdem uma grande oportunidade de realizar laços de amor e construção

Muitas vezes os casais são ligados apenas por afinidades carnais, por exemplo: casam por dinheiro, por atração física, por sentirem-se só, por que todos estão casando, e não casam por amor de construção e respeito, assim, quando acaba o que preciso no outro a solução é o término.

As situações de estresse geram, muitas vezes, irritabilidade, impaciência e intolerância. O nível de ansiedade das pessoas está mais alto que em períodos anteriores e isto também influencia nas relações, pois faz com que os indivíduos enxerguem a vida com um olhar mais negativo. Ou seja, situações que em outros momentos poderiam ser facilmente relevadas, nessas circunstâncias acabam gerando brigas e discussões.

O casal precisa ser adulto o suficiente para entender que o divórcio não é a solução. Pode até ser de forma imediata, mas ao longo do tempo vão se relacionar-se com outras pessoas e novamente vão passar pelo deserto do casamento.

Uma construção conjunta, com empatia, cumplicidade, conversa e até mesmo terapias de casais, para fazer uma construção de um novo “EU” é a solução. Porque nunc está no outro. O outro geralmente é um gatilho para o meu problema.

Nunca esteve tão forte a frase de Sócrates: conhece-te a ti mesmo.

O poder de se conhecer, de silenciar e entender que somos responsáveis pelo que falamos e não pelo que o outro está sentido pode trazer muitas descobertas e aprimoramento na vida conjugal.

Outro dado importante que quero deixar, é o divórcio grisalho, ou seja, a separação de casais com mais de 50 anos de união que vem aumentando a escala cada dia que passa.

Assim, é visível que o divórcio está deixando de ser estigmatizado, inclusive alcançando a geração dos anos 50/60, onde sofreram e acompanharam todas as transformações e as lutas da evolução dos direitos. A expectativa de vida e estabilidade econômica.

No Brasil, em 2021, 25,9% das pessoas que tiveram divórcio confirmado na primeira instância da Justiça ou via escritura tinham mais de 50 anos, segundo levantamento da BBC a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Assim, fica claro que os números estão aumentando, porque cada vez mais o ser humano não quer assumir o compromisso de se olhar e se conhecer, quer apontar o dedo para o cônjuge de seus problemas, resultando na falência da família, no total prejuízo dos filhos, e na perpetuação da repetição de padrões familiares.

Juliane Silvestri Beltrame

Especialista em Direito das famílias e escritora.

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